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Foto do escritorChico Xavier

PERDOADOS, MAS NÃO LIMPOS


Em nossas faltas, na maioria das vezes, somos imediatamente perdoados, mas não limpos.

Fomos perdoados pelo fel da maledicência, mas a sombra que tencionávamos esparzir, na estrada

alheia, permanece dentro de nós por agoniado constrangimento.

Fomos perdoados pela brasa da calúnia, mas o fogo que arremessamos à cabeça do próximo passa

a incendiar-nos o coração.

Fomos perdoados pelo corte da ofensa, mas a perda atirada aos irmãos do caminho volta

incontinenti, a lanhar-nos o próprio ser.

Fomos perdoados pela falha de vigilância, mas a pedra atirada aos irmãos do caminho volta,

incontinente, a lanhar-nos o próprio ser.

Fomos perdoados pela manifestação de fraqueza, mas o desastre que provocamos é dor moral que

nos segue os dias.

Fomos perdoados por todos aqueles a quem ferimos, no delírio da violência ma, onde estivermos, é

preciso extinguir os monstros do remorso que os nossos pensamentos articulam, desarvorados.

***

Chaga que abrimos na alma de alguém pode ser luz e renovação nesse mesmo alguém, mas será

sempre chaga de aflição a pesar-nos na vida.

Injúria aos semelhantes é azorrague mental que nos chicoteia.

A serpente leva consigo a peçonha que veicula.

O escorpião carrega em si próprio a carga venenosa que ele mesmo segrega.

***

Ridiculizados, atacados, perseguidos ou dilacerados, evitemos o mal, mesmo quando o mal assuma

a feição de dessa, porque todo mal que fizermos aos outros é mal a nós mesmos.

Quase sempre aqueles que passaram pelos golpes de nossa irreflexão já nos perdoaram

incondicionalmente, fulgindo nos planos superiores; no entanto, pela lei de correspondência,

ruminamos, por tempo indeterminado, os quadros sinistros que nós mesmos criamos.

Cada consciência vive e envolve entre os seus próprios reflexos.

É por isso que Allan Kardec afirmou, convincente, que, depois da morte, até que se redima no campo

individual, “para o criminoso a presença incessante das vítimas e das circunstâncias do crime é

suplício cruel”.

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